Escala de Bortle para Céu Escuro

04/06/2014 08:26

Por: John E. Bortle

 

Quão escuro é o seu céu ? A resposta a esta pergunta é útil para compararação de locais de observação e, mais importante, para determinar se um local é escuro o suficiente para permiti que seus olhos, telescópio, ou a câmera, alcance seus limites teóricos. Da mesma forma, você precisa de critérios exatos para avaliar as condições do céu ao documentar observações incomuns ou limítrofes, como uma cauda extremamente longa de um cometa ou características sutis em galáxias.

Em foruns da Internet e newsgroups, vejo muitas postagens dos novatos (e, por vezes, observadores mais experientes) querendo saber como avaliar a qualidade de seus céus. Infelizmente, a maioria dos astrônomos de hoje nunca fizeram observações sob um céu verdadeiramente escuro, falta-lhes um critério de referência para medir as condições locais. Muitos descrevem observações feitas em locais "muito escuros", mas a partir das descrições fica claro que o céu deve ter sido apenas moderadamente escuro. A maioria dos amadores de hoje não pode chegar a um local verdadeiramente escuro a uma distância razoável. Assim, ao encontrar um local de observação semi-rural onde as estrelas de magnitude 6,0-6,3 são marginalmente aparentes a olho nu, eles acreditam ter localizado o Nirvana dos locais de observação !

 

Trinta anos atrás, podia se encontrar verdadeiramente céus escuros dentro de uma hora de carro de grandes centros populacionais. Hoje muitas vezes você precisa viajar 250 kilometros ou mais. Na minha própria carreira de observação tenho assistido o crescimento da poluição luminosa manchando os céus. Em anos passados ​​eu pude ver céus quase intocados em partes da altamente urbanizada região do nordeste dos Estados Unidos. Isso não é mais possível. 

 
Magnitude limite não é suficiente.

 

Astrônomos amadores costumam julgar os seus céus, observando a magnitude da estrela mais fraca visível a olho nu. No entanto, a olho nu magnitude limite é um critério fraco. Depende muito da acuidade visual de uma pessoa (nitidez da visão), bem como sobre o tempo e o esforço dispendido para ver as mais fracas estrelas possíveis, o mesmo  "céu de magnitude 5,5" para uma pessoa é diferente de outro "céu de magnitude 6,3" para outra. Além disso, os observadores do céu profundo precisam avaliar a visibilidade de ambos os objetos estelares e não estelares. Uma pequena quantidade de poluição luminosa degrada objetos difusos, tais como cometas, nebulosas e galáxias muito mais do que as estrelas.

Para ajudar os observadores a julgar a verdadeira escuridão de um local, eu criei uma escala de nove níveis. Basei-me em cerca de 50 anos de experiência de observação. Espero que seja tanto esclarecedor quanto útil para os observadores - embora possa chocar ou mesmo horrorizar alguns ! Para uso geral, o objetivo é fornecer um padrão consistente para comparar observações. Os pesquisadores seriam mais capazes de avaliar a plausibilidade de uma observação incomum ou marginal. Além de tudo, poderia ser uma bênção para aqueles de nós que verificam regularmente os céus.

 

Classifique seus Céus

 

Classe 1: Excelente local de céu escuro. A luz zodiacal e banda zodiacal são visíveis - a luz zodiacal a um grau notável, e a banda zodiacal preenchendo o céu inteiro. Mesmo com visão direta, a galáxia  M33 é um objeto facilmente visível a olho nu. A região de Escorpião e Sagitário da Via Láctea lança notáveis sombras difusas no chão. A olho nu a magnitude limitante é 7,6-8,0 (com esforço); a presença de Júpiter ou Vênus no céu parece degradar a adaptação ao escuro. Luminescência atmosférica ou airglow (muito fraca, brilho mais evidente perto de 15° do horizonte) é facilmente perceptível. Com um telescópio de 32 centímetros (12 ½ polegadas), as estrelas de magnitude 17,5 podem ser detectadas com esforço, enquanto um instrumento de 50cm (20 polegadas) com ampliação moderada atingirá  a magnitude 19. Se você está observando em um campo coberto de grama cercado por árvores, o seu telescópio, companheiros, e veículo são quase totalmente invisível. Este é o Nirvana para um observador!

 

Classe 2: Típico local verdadeiramente escuro.  Luminescência atmosférica  ou airglow fracamente aparente ao longo do horizonte. M33 é facilmente vista com visão direta. A Via Láctea de verão (hemisfério norte) é altamente estruturada a olho nu, e suas partes mais claras parecem com mármore quando vista com binóculos normais. A luz zodiacal ainda é brilhante o suficiente para lançar sombras fracas pouco antes do amanhecer e depois do crepúsculo, e sua cor pode ser amarelada quando comparado com o azul/branco da Via Láctea. Quaisquer nuvens no céu são apenas buracos ou vazios escuros visíveis no fundo estrelado. Você pode ver seu telescópio e arredores apenas vagamente, exceto onde eles se projetam contra o céu. Muitos dos aglomerados globulares Messier são objetos visíveis a olho nu. A magnitude visível a olho nu limitante é tão fraca como 7.1 a 7.5, enquanto um telescópio de 32cm atinge a magnitude 16 ou 17.

 

Classe 3: Céu rural. Alguma indicação de poluição luminosa é evidente ao longo do horizonte. Nuvens podem aparecer levemente iluminadas nas partes mais brilhantes do céu perto do horizonte, mas escuras. A Via Láctea ainda parece complexa, e aglomerados globulares como M4, M5, M15, M22 são objetos distintos visíveis a olho nu. M33 é fácil de ver com visão indireta. A luz zodiacal é marcante na primavera e no outono (quando se estende 60° acima do horizonte depois do anoitecer e antes do amanhecer) e sua cor é levemente notada. O telescópio é levemente aparente a uma distância de 6 ou 9 metros. A magnitude limite  a olho nu é de 6,6 para 7,0 e um refletor de 32cm vai chegar a 16 de magnitude.

 

Classe 4: Transição rural / suburbano. Cúpulas de poluição luminosa bastante óbvia e aparente sobre centros populacionais em várias direções. A luz zodiacal é claramente evidente, mas não mais que a meio caminho para do zenite no início ou no final do crepúsculo. A Via Láctea bem acima do horizonte ainda é impressionante, mas não mostra-se toda, apenas as estruturas mais óbvias. M33 é um objeto de visão periférica difícil e detectável somente quando, a uma altitude superior a 50°. Nuvens no sentido de fontes de luz de poluição luminosa são iluminadas levemente, e na verical escuras. Você pode ver o seu telescópio claramente à distância. A olho nu a magnitude máxima limitante é 6.1 a 6.5, e um refletor de 32cm com ampliação moderada irá revelar estrelas de magnitude 15.5.

 

Classe 5: Céu suburbano. Apenas sugestões da luz zodiacal são vistas nas melhores noites de primavera e outono. A Via Láctea é muito fraca ou invisível perto do horizonte e parece um pouco desbotada em cima. As fontes de luz são evidentes em sua maioria, se não em todas as direcções. Na maior parte ou na totalidade do céu, as nuvens são bem visivelmente e mais brilhante do que o próprio céu. A magnitude limite a olho nu é de cerca de 5,6-6,0, e um refletor de 32 cm vai atingir a magnitude de cerca de 14,5-15.

 

Classe 6: Céu suburbano iluminado. Nenhum vestígio da luz zodiacal pode ser visto, mesmo nas melhores noites. Todas as indicações da Via Láctea são aparentes apenas em direção ao zênite. O céu dentro até 35° do horizonte brilha branco acinzentado. Nuvens em qualquer lugar do céu parecem bastante brilhante. Você não tem nenhuma dificuldade em ver oculares e acessórios do telescópio em uma mesa de observação. M33 é impossível ver sem binóculos, e M31 é apenas modestamente aparente a olho nu. O limite a olho nu é de cerca de 5,5, e um telescópio de 32 cm com ampliação moderadas mostrará estrelas com magnitude 14,0-14,5.

 

Classe 7: Transição de céu suburbano / urbano. O fundo do céu inteiro tem uma leve tonalidade branco acinzentado. Fontes de luz fortes são evidentes em todas as direções. A Via Láctea é totalmente invisível ou quase isso. M44 ou M31 pode ser vislumbrada a olho nu, mas são muito tênues. Nuvens são bem iluminada. Mesmo em telescópios de tamanho moderado, os objetos Messier mais brilhantes  são fantasmas pálidos diante de sua grande beleza real. A olho a nu a magnitude limite é de 5,0, se você se esforçar, e um refeltor de 32 cm vai mal alcança a magnitude 14.

 

Classe 8: Céu de cidade. O céu brilha cinza esbranquiçado ou alaranjado, e você pode ler as manchetes dos jornais, sem dificuldade. M31 e M44 pode ser apenas vislumbrada por um observador experiente em boas noites, e os objetos Messier brilhantes são detectáveis ​​com um telescópio de tamanho modesto. Algumas das estrelas que compõem os padrões das constelações familiares são difíceis de ver ou estão ausentes por completo. A olho nu pode-se ver estrelas até magnitude 4,5 na melhor das hipóteses, se você souber exatamente para onde olhar, e o limite estelar para uma telescópio refletor de 32 cm é um pouco melhor do que magnitude 13.

 

Classe 9: Céu de centro de cidade. O céu inteiro é bem iluminado, mesmo no zenite. Muitas estrelas que compõem figuras das constelações familiares são invisíveis, e constelações fracas, como Câncer e Peixes não são vistas de forma alguma. Além de, talvez, as Plêiades, objetos Messier não são visíveis a olho nu. Os únicos objetos celestes que realmente proporcionam agradáveis ​​vistas no telescópio são a Lua, os planetas, e alguns dos aglomerados de estrelas mais brilhantes (se você puder encontrá-los). A olho nu magnitude limite é de 4,0 ou menos.

 

- Artigo original pode ser vsito em: https://www.skyandtelescope.com/astronomy-resources/the-bortle-dark-sky-scale/